Conteúdo enviado pelo internauta Francivaldo da S. Sousa (Vavá)
Mateus e Lucas dedicaram algumas linhas de seus Evangelhos ao nascimento de Jesus. Tal acontecimento está cercado de testemunhas diversas: Maria, José, os magos e os pastores. Acerca destes últimos, há uma observação lucana que julgo importante refletir, ainda que brevemente.
Depois de mencionar que Maria estava grávida e que “chegou o dia em que ela deveria dar à luz” (cf. Lc 2, 5-6), Lucas faz a seguinte observação: “Havia, na mesma região, pastores que viviam nos campos e montavam guarda durante a noite junto a seu rebanho” (Lc 2,8). A seguir, o evangelista fala da aparição do anjo a esses pastores, anunciando-lhes “a Boa Nova” de que havia nascido, na cidade de Davi, um Salvador.
Para mim, um detalhe importante está presente no versículo 8. Os pastores velavam pelos seus animais. Vigiavam a noite inteira para evitar que alguém roubasse suas ovelhas ou algum animal predador as atacasse. Em outras palavras, cuidavam daquilo que era de seu interesse. Contudo, após os anjos os deixarem, disseram entre si: ‘“Vamos, pois, até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer’. Eles foram para lá apressadamente” (v. 15-16a).
Isso significa que aqueles homens abandonaram o seu rebanho, correndo o risco de perdê-lo por causa de um acontecimento que, certamente, para eles tinha algum significado. Foram para Belém apressadamente. Não esperaram o dia clarear, não fizeram revezamentos entre si com a guarda dos animais. Simplesmente arriscaram aquilo que para eles era valioso por causa de um tesouro maior.
“Os pastores representam os pobres de Israel, os pobres em geral” (BENTO XVI – A infância de Jesus, p. 64), ou seja, aqueles que comumente têm maior facilidade de desprendimento por causa de Jesus; aqueles que, ao se encontrarem com o Senhor, relativizam seus bens, permitindo que Ele, Seus planos e Sua vontade tenham primazia sobre tudo aquilo que são e possuem neste mundo.
“Abandonemos nossos apegos e riquezas e deixemo-nos atrair por Aquele que, de rico que era, fez-se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza”
Quem de nós tem adotado posturas análogas à desses simples homens? Quem é capaz de arriscar alguma coisa, que para si é importante, por causa d’Ele? Quem tem a coragem, sobretudo neste tempo, de interromper suas próprias ocupações para deter-se no mistério da Encarnação por meio da oração, da liturgia e da leitura das Escrituras, com o intento de mergulhar mais profundamente naquilo que “o Senhor nos deu a conhecer”? Estas são algumas interrogações cabíveis neste período de preparação natalícia.
A boa notícia do nascimento de Jesus não teve como destinatários os Sumos Sacerdotes, os escribas ou os governadores da época. Talvez, porque, para eles, tal anúncio resultaria em nada mais do que uma ameaça aos seus interesses egoístas e soberbos, como de fato aconteceu com Herodes (cf. Mt 2, 13).
“Felizes os pobres de coração”, dirá Jesus mais tarde (cf. Mt 5, 3). É dessa pobreza interior que os pastores demonstraram ser portadores e, provavelmente, por isso tenham sido escolhidos para compor o grupo das primeiras testemunhas da encarnação do Verbo de Deus.
Corramos também nós, apressadamente a Belém, e vejamos o que o Senhor nos deu a conhecer. Larguemos nossos “rebanhos” nos campos e não tardemos em ir ao encontro do Salvador. Abandonemos nossos apegos e riquezas e deixemo-nos atrair por Aquele que, de rico que era, fez-se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza (cf. II Cor 8, 9). Se assim o fizermos, certamente começaremos o novo ano “cantando a glória e o louvor de Deus” por tudo o que vimos e ouvimos (cf. Lc 2, 20).
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