A crise da masculinidade

Crise da Masculinidade / Reportagens

Por Daniel Machado

Por longos séculos a identidade masculina esteve ligada à sua virilidade. A imagem do homem herói, guerreiro, combatente, caçador, conquistador e protetor permeou as diversas culturas e plasmou a figura dele na história. No entanto, os especialistas afirmam que este modelo está em declínio. O homem moderno trocou a aparência viril por uma mais estética e delicada, quase beirando à imagem feminina. Há quem diga que isso é apenas uma questão cultural, um tipo de estereótipo que acompanhou o modelo patriarcal ao longo dos anos; contudo, não se pode negar que estas mudanças estão colocando o homem numa verdadeira berlinda existencial.

Quando falamos sobre a crise da masculinidade, apoiamo-nos no fenômeno da transição que tem acontecido no mundo masculino no decorrer do tempo e, como em toda mudança, podemos contemplar fatos positivos dessa realidade e outros nem tanto.

Confira no vídeo abaixo o primeiro bloco da reportagem

Mas afinal o que é ser homem? Como, na cultura atual, eles podem se diferenciar das mulheres?

“A mulher é mensalmente lembrada, no seu corpo, de que ela é mulher, e isso a ajuda muito na sua condição feminina. O homem não tem nenhum evento corpóreo que venha em seu socorro neste sentido; por isso ele fica na dependência de ritos sociais e culturais que cumpram esta função. Em alguns povos primitivos estes rituais ainda funcionam maravilhosamente bem, mas, na nossa sociedade moderna, esses ritos de iniciação masculina se perderam”, enfatiza o psicoterapeuta Alberto Pereira Lima Filho.

Crise da Masculinidade, destrave

Padre Paulo Ricardo, em entrevista para o Destrave

Segundo padre Paulo Ricardo, sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá (MT), que tem debatido o tema em palestras pelo Brasil afora, a crise da masculinidade consiste em que o jovem rapaz já não consegue se distanciar muito do mundo feminino. “O ser homem não está somente relacionado aos hormônios masculinos, mas à sua missão de se afastar do mundo feminino e, depois, voltar para protegê-­lo. O que acontece hoje é que o homem não quer mais se afastar deste feminino e, por isso, não tem cumprido a sua missão de ser homem”, afirma o sacerdote.

A ideologia de gênero e o movimento feminista

Na vanguarda da crise da masculinidade estão os grandes movimentos de desconstrução dos sexos, como o feminismo radical e a ideologia de gênero. Esta polêmica foi levantada por uma famosa feminista chamada Camille Paglia, que, em entrevista a uma conhecida revista brasileira, disse que o feminismo foi duro demais com os homens. Segundo Paglia, ao exigir espaço num mundo que pertencia exclusivamente aos homens, as mulheres acabaram os colocando numa verdadeira encruzilhada. “As mulheres pedem aos homens que eles sejam o que não o são e, quando eles se tornam o que não são, elas não os querem mais”, declarou.

A importância da autoridade paterna

As tristes consequências da ausência paterna

10 dicas para uma paternidade mais saudável

“O que acontece hoje é que os movimentos feministas colocaram na cabeça das pessoas que ser homem é ruim, ser homem é ser um opressor, e que o bonito é ser delicado. Enquanto antigamente o rapaz recebia estímulo do pai e da própria sociedade para ser homem, hoje o rapaz se sente culpabilizado com a ideia de que ser homem é ser um opressor”, ressalta padre Paulo Ricardo.

De acordo com a socióloga Arlene Denise, a ideologia de gênero ajudou a confundir ainda mais os papéis do homem e da mulher na sociedade. “A criança e o adolescente precisam fazer um caminho árduo de identificação com a figura masculina para se tornarem homens. O que acontece é que a ideologia de gênero vem e diz para este adolescente e esta criança que eles podem ser o que quiserem, e isso confunde muito a cabeça dos meninos”, alerta a socióloga.

Metrossexualidade

"Eu gasto mil reais por mês em cosmético", afirma Rogério Azor / Foto: reprodção

Um modelo masculino, que surgiu nos últimos 20 anos e que retrata bem esta crise do homem moderno, são os chamados metrossexuais. São homens – provenientes dos centros urbanos e das grandes metrópoles – excessivamente preocupados com a aparência, que assumiram um mercado até então rigorosamente ocupado por mulheres, como os salões de beleza e clínicas de estética. Eles pintam a unha, fazem a sobrancelha, depilam o corpo, gastam horas em frente ao espelho e não fazem economia quando o assunto é beleza e cosméticos.

Para Rogério Azor Bocalari, cinegrafista e metrossexual assumido, o homem que se preocupa com a aparência faz parte de uma cultura que tem crescido a cada dia, por isso as clínicas de beleza estão investindo mais nesse segmento. “Eu conheço muita gente que critica e diz que as coisas que eu faço para melhorar minha aparência são referentes ao comportamento feminino. Mas eu discordo dessas pessoas, porque elas ainda têm na mente a ideia de que o homem é aquele cara ‘ogro’ e ‘antigão’”.

Segundo a socióloga Arlene Denise, a metrossexualidade é um reflexo da nossa cultura narcisista e consumista. “Nós vivemos numa cultura em que as pessoas precisam o tempo todo ser vistas; para isso, precisam consumir. A nossa mídia está a serviço da cultura do consumo, porque, quanto mais vaidoso um homem for, tanto mais ele vai gastar com salão de beleza, academia, depilação e cosméticos de todos os tipos”, recorda Arlene.

Confira no vídeo abaixo o 2º bloco da reportagem

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, só nos últimos cinco anos cresceu em 93% a frequência de homens em clínicas de estética e salões de beleza no país. Uma pesquisa norte-americana também revelou que os homens estão investindo mais tempo e dinheiro com a aparência: eles consomem, em média, 22 minutos diários em frente ao espelho e quase dois mil reais mensais em produtos de beleza. 72% deles disseram se sentir mais pressionados pela sociedade em relação à aparência do que há 10 anos.

A crise da paternidade

De acordo com especialistas no assunto a crise da masculinidade desemboca numa outra crise: a da paternidade. Mas qual a importância da figura paterna para uma pessoa?

Crise da masculinidade, Destrave

Dr. Alberto Pereira Lima Filho, em entrevista para o Destrave / Foto: reprodução

“O pai apresenta ao filho o mundo ordenado, que tem leis, regras, costumes e ética e a noção do outro. O avesso disso é desastroso, é o que chamamos de psicopatia, que é justamente a ausência de senso de limite, de regra e da falta da noção do outro na psique”, informa o psicólogo Alberto Pereira Lima.

Segundo o especialista, as pessoas não estão “à deriva” de um pai, mas, muitas vezes, têm um pai “disfuncional”, ou seja, desajustado e inoperante. “A presença de um pai ‘disfuncional’ grita mais do que a ausência física de um pai, porque ele vai funcionar como um parâmetro para a construção de um ser de conduta problemática e desviante”, destaca o psicólogo.

A reflexão do doutor Alberto está de acordo com estudos realizados nos Estados Unidos, os quais mostram que, neste país, uma em cada três crianças vive sem o pai biológico ou sem referência paterna em casa. Os números das pesquisas revelaram que, nos lares sem a presença do pai, as chances de as crianças viverem na pobreza são quatro vezes maiores. Revelaram também que elas apresentam níveis mais elevados de comportamento agressivo. E que a mortalidade infantil entre esse público é duas vezes maior e que estão mais propensas à delinquência e a ter problemas com a lei. Os números também mostraram que as jovens que crescem sem a presença paterna têm sete vezes mais probabilidade de engravidar na adolescência e maior probabilidade de sofrer maus-tratos e negligência. E estão mais propensas ao uso e ao abuso de álcool e drogas. E duas vezes mais suscetíveis à obesidade e ao abandono dos estudos.

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10 Comments to A crise da masculinidade

  1. Andreia Pinna's Gravatar Andreia Pinna
    3 de outubro de 2014 09:10 Permalink

    Muito importante debater esse tema. Hoje está tudo muito estranho…rnSinto que estamos perdendo a identidade conforme Deus nos fez.rnTenho um filho e sinto muita insegurança frente às novas tendências do mundo moderno.

  2. Gustavo G.'s Gravatar Gustavo G.
    3 de outubro de 2014 09:47 Permalink

    Talvez, de uma forma menos científica, a raiz da CRISE, ou das CRISES que podemos ver e experimentar no dia-a-dia, esteja na (crise de) preservação das BOAS tradições. Vejo que, atualmente, existe uma tendência para rotular aquilo que é “tradição” (de costumes, comportamento etc) como algo ultrapassado, que deve ser combatido, evitado e exterminado.rnSob esta ótica, o próprio BEM estaria ameaçado.rnOremos para que Deus nos capacite a preservarmos a tradição de sermos pessoas de/do BEM.rnForça e Paz à equipe do programa

  3. Danton Renato's Gravatar Danton Renato
    3 de outubro de 2014 14:02 Permalink

    Eu sou homem, sempre fui e não em crise nenhuma!rnQuem criou artificialmente essa crise foi a mídia do mundo.rnEstão efeminando nossos juvens e masculinizando nossas jovens.rnDeixem de ver novelas e TVs do mundo – e só se assistam canais católicos!rnDediquem-se somente à Deus – tudo mais vem do encardido!

  4. Wagner's Gravatar Wagner
    3 de outubro de 2014 14:35 Permalink

    Assisti ontem e achei muito bom, estou tentando montar um grupo para vermos juntos a reportagem e discernir o que fazer nos nosso grupos de oração e de jovens. Obrigado!!!!

  5. ligia's Gravatar ligia
    3 de outubro de 2014 15:28 Permalink

    Muito pertinente o tema.É mais informação para nos avaliar nosso papel na sociedade, como homens e mulheres, diante de tudo que nos é proposto e principalmente o que nos temos passado de imagem sobretudo aos nossos filhos.

  6. Paula's Gravatar Paula
    6 de outubro de 2014 21:25 Permalink

    Até que fim alguém tocou no assunto. O tema é como se fosse um elefante branco gigantesco no meio da sala, que ninguém tem coragem tocar no assunto. Parabéns ao Destrave pela iniciativa. rnrnSou mulher, hétero, e acho horrível a auto-feminilização do homem o que, inclusive, força a mulher a ter que aceitar certas coisas ou se “masculinizar”, de certa forma, até mesmo para suprir o que o homem já se recusa a ser ou fazer. rnrnTanto a criança quanto a mulher precisam de um homem verdadeiro não só na aparência mas na atitude também. É muito importante. Na minha opinião quando uma mulher adulta se relaciona com um homem com essa “nova mentalidade” é como a entrevistada disse: “É como estar com outra mulher!”. É horrível! O relacionamento heterossexual NECESSITA de sexos opostos do contrário você NUNCA será completo (a). rnrnE quanto às crianças, o modelo tradicional de família (pai e mãe) é recomendável, mas o que acho mais importante mesmo é que, qualquer que seja o tutor, este ensine pra criança o que é ser uma mãe/mulher, pai/homem. Quais são os papéis de cada um, como devem se portar… É saudável pra criança e pra sociedade que ela, ao menos, saiba o que é certo e reproduza aquilo. rnrnAcho negativa essa inversão de papéis que vivemos e acho que pra variar, o sexo prejudicado seja o feminino (mesmo que tal realidade seja fruto das reinvindicações feministas do século passado). Devemos prestar mais atenção nas crianças, aconselhá-las, se for o caso, e nos perguntar se tudo isso que estamos deixando passar, muitas vezes, dentro de nossa própria casa, é normal mesmo.rnrnrnrnUm abraço a todos!

  7. Giovani Pereira's Gravatar Giovani Pereira
    18 de outubro de 2014 09:33 Permalink

    Tenho uma enteada e uma filha e concordo com as ideias expostas, pois hoje tudo é considerado normal. O resultado é esta sociedade sem valores ou referências e pessoas frustradas.

  8. Carlos's Gravatar Carlos
    8 de novembro de 2014 17:21 Permalink

    No programa revolução Jesus, em que o tema foi a crise da masculinidade, o Adriano falou uma frase de um autor que não me lembro. Era sobre o que era ser homem. Achei fantástica a frase. Procurei na internet mas nao achei. Alguem sabe qual e a frase e qual o autor?rnse alguem souber posta aqui. vlw mt obrigado. Deus abençoe a todos.

  9. Saulo's Gravatar Saulo
    23 de dezembro de 2015 23:45 Permalink

    Ótimo material.
    Obrigado a equipe por trazer esse assunto. O melhor, de qualidade.
    Tem sido difícil encontrar bons materiais sobre isso.

  10. Isaac's Gravatar Isaac
    10 de julho de 2016 01:20 Permalink

    Perfeito